Hotel Paineiras Rio de Janeiro

Rio de Janeiro-RJ
Projeto Arquitetônico
Ano do Projeto: 2009
Equipe: Lucas Feitosa, Humberto Buso, Thiago Zau, Lucas Santos e Ulysses Martins

SITUAÇÃO ATUAL

Este estudo pretende ser uma solução para os atuais problemas de fluxo e ocupação do conjunto denominado Complexo – Hotel Paineiras, bem como, apresentar soluções para sua futura ocupação. 

TERRENO

A localização do complexo é bastante peculiar. Não apenas por se tratar de um entre morros a aproximadamente 460 metros do nível do mar, mas em relação à formação da cidade e seus fatos urbanos. Situado no interior do Parque Nacional da Tijuca o complexo goza de abundante vegetação remanescente e de geografia excepcional. 

Os morros, talvez o mais impressionante contraste vertical e horizontal no mundo. Essas barreiras naturais, visto como obstáculos a serem vencidos no passado concentraram a expansão urbana do Rio de Janeiro. Desta maneira, é possível identificar com bastante fidelidade, cada momento urbanístico vivido pela antiga capital. 

Esta evolução urbana caracterizada pela ocupação de quase toda a área encerrada pelos limites naturais tinha como principal característica os saltos. Saltos estes gerados a cada superação dos obstáculos. Ora morros, ora o mar, ambos vencidos ano após ano, via túneis, via vias.   

Nos hiatos das conquistas, a cidade, de maneira quase pedagógica, nos apresenta no norte uma densa ocupação urbana da sua fundação, passando pela limpeza moderna para finalmente se espraiar numa barra ao sul.  

No meio do caminho desta expansão, neste panorama de natureza oferecida e abundante, por vezes rompida e vencida é criado o parque nacional da Tijuca. O qual abriga alguns dos marcos naturais e construídos mais expressivos do mundo e se tornou referência de localização na urbe para os que vão de norte a sul.    

DIAGNÓSTICO

O “vale” onde se encontra, atualmente, o complexo está nitidamente sobrecarregado. O número de visitantes em diferentes meios de transportes já supera em muito a capacidade de atendimento adequado que o parque pode oferecer. Como se não bastasse a exuberante floresta tropical, os maciços rochosos e principalmente a vista que eles propiciam, o parque ainda conta com a presença de um monumento responsável por atrair milhares de turistas ao local todos os anos. O Cristo Redentor, quer seja pela fé ou pela simples possibilidade de apreciar as conquistas humanas, atrai pessoas de todos os países. Pessoas estas que simplesmente atravessam o complexo. Seja por falta de espaços adequados que as recebam ou simplesmente pela falta de atrativos que completem a visita.  Desta forma, a organização dos meios de transportes que acessam a área, a garantia de atendimento aos visitantes coerentes com a importância turística da cidade e as diretrizes de uma futura ocupação serão os pontos tratados neste estudo.

A BUSCA PELO PLANO

O aterro, os calçadões e cada morro rompido em busca de um lugar mais plano. Isto resume de maneira lúdica as conquistas cariocas.  Este conceito norteia nossa proposta de ocupação para o complexo. 

O vale estreito e alongado, apesar da intensa beleza natural, atualmente é apenas passagem para quem, de fato, quer chegar ao Cristo. Esta proposta não pretende deixar de ser esta passagem, mas sim, convidar quem passa para ficar um pouco mais. 

Um plano, ora passeio, ora cobertura conectando toda a topografia peculiar do vale aos novos e revitalizados equipamentos. Este plano em forma de eixo implantado no sentido longitudinal do vale pretende ser uma nova topografia, uma topografia plana e artificial criada para receber as pessoas e apresentá-las o vale, a cidade norte e a cidade sul.

A ESPLANADA 

Plano proposto, a esplanada parte da cota 460 ao sul. Com vista para zona sul, ancorada aos pés do antigo Hotel Paineiras. A partir deste ponto repousa no terreno por aproximadamente 65 metros, até sua estrutura enraizar em busca do solo assumindo sua dupla função, passeio e proteção. Continuando nesta tipologia por mais 235 metros ao sul, conectando e protegendo novos equipamentos, mas principalmente alcançando, por de traz do morro, a vista para a zona norte da cidade. Deixando para traz a função técnica inerente aos percursos, assumindo a função didática da exploração.

HOTEL PAINEIRAS E CENTRO DE CONVENÇÕES 

Este hotel de serra atualmente em ruínas teve o prédio original inaugurado em 1884, porém vem sofrendo diversas intervenções. A construção original já não existe mais, porém é incontestável o valor histórico da construção principal bem como alguns anexos.   O Hotel conta com boa capacidade de infraestrutura e de suas janelas se vê praticamente toda a zona sul. Quanto à localização, apesar da distância, o mesmo se encontra conectado a um sistema de transportes regular e não-poluente, virtudes, mas do que cobiçadas nos dias de hoje. Porém apesar dos pontos fortes, a atual paineira tem metade dos quartos voltados para paredão de arrimo do trem. Ou seja, 50% da sua capacidade de ocupação têm baixíssimas procura. Além deste problema grave para um hotel com estas características seus quartos estão desatualizados e não fazem frente à concorrência das grandes redes.

O foco desta proposta foi à reutilização da capacidade de infraestrutura existente para abrigar as exigências atuais. Sem descaracterizar a história, mas atualizando os usos e infraestrutura, para que desta forma, mais competitivo afaste a possibilidade de novo declínio. 

Quanto à atualização da infraestrutura, o hotel atual conta com pés direito generosos, possibilitando a instalação de novos e atuais sistemas de energia, água gás e lógica, seja via forro ou pisos elevados. Toda via a questão principal seria reverter os quartos de traz do hotel para que os mesmos usufruíssem da vista. Por sua vez o hotel apresentou a solução para esta questão. Sua estrutura tem modulação de aproximadamente 3,75 metros. Porém os quartos existentes, não eram alinhando com a estrutura, resultando em quartos mais quadrados e diminuindo consideravelmente a ocupação de quartos para a vista. Assim, uma simples intervenção, mas de grande resultado prático e comercial, foi realinhar as divisórias entre quartos nos pilares existentes. O resultado disso foi a ausência de quartos voltados para o paredão. Ao contrário o hotel ganhou um corredor periférico para o fundo, que é praticamente uma vitrine da mata existente. Estas novas divisórias que podem ser executadas em dry-wall aproveitam a espessura dos pilares existentes, aproximadamente 50 cm, para execução de shafts e nichos para armários embutidos e iluminação.

Quanto à cobertura, toda refeita de estrutura de aço e telhas tipo sanduíche planas, arremeta o corpo do edifício. Porém, além da função estética a mesma serve de suporte para instalação de placas de energia solar e aquecimento. Com área de aproximadamente 700m² o hotel conta junto com o sistema de capitação e armazenagem de água com um sistema quase autossuficiente e ecologicamente viável. 

Esta alteração resultou em quartos mais compridos do que o normal, possibilitando a criação de uma segunda fachada, está totalmente de vidro e recuada 1,5 metros. A original foi mantida e seus vãos originais ampliados. Esta empena de alvenaria, agora descolada do corpo do hotel protege do sol da tarde sem a necessidade de acrescentar novos elementos à fachada como brises e abas. 

Apesar de o hotel ser tratado como objeto descolado da cidade, pouco se relacionando com o entorno, nesta proposta o mesmo faz parte de um complexo sendo e abrigando novos equipamentos de atração pública. O hotel se relaciona com a esplanada pelo térreo, daí a ideia de aproveitar todo o grande salão para receber as pessoas que usufruem do novo percurso plano. Assim as salas de exposições temporárias e permanentes foram inseridas neste espaço, de maneira livre e abertas, sem engessar futuras apresentações e tirando partido de divisórias móveis embutidas no forro, quando da necessidade de privacidade.  Além do espaço todo livre e receptivo o espaço do antigo salão foi ampliado até encostar-se à montanha e trazê-la para dentro do hotel. Costurado por uma pérgula de estrutura metálica e vidro, aproveitando melhor a iluminação zenital da manhã realçando o contraste das pedras e sendo ela mesma objeto cênico de exposição.  Este grande área de exposição pretende ser transmissora de informação, não de maneira ostensiva, mas sim se colocando apenas no meio do caminho de quem vai e vem e que distraidamente pode esbarrar com o conhecimento posto ali. Além desta área pública o hotel ainda conta com o café e o alpendre. O primeiro ainda é divido com os hóspedes do hotel e tem caráter semi-público, já o alpendre, localizado na melhor vista do vale e no final da esplanada foi considerado como espaço público e irrestrito, evitando privatizar a vista. Um mirante a 460 metros do nível do mar. Também marca a entrada do restaurante panorâmico. O novo restaurante ocupa um salão logo abaixo do alpendre, mas que compartilha da mesma vista para a zona sul.  Esta localização estratégica do restaurante permite que ele tenha vida própria independente do hotel, utilize a infraestrutura para uma cozinha industrial localizada no subsolo do hotel, que também serve ao café. Esta proposta descarta a opção por um restaurante na cobertura do hotel, visando à alcunha de panorâmico. O restaurante, tal qual, apresentado nesta proposta se encontra a 455 metros do nível do mar, conta com fachada envidraçada, varanda coberta e principalmente com as vantagens da cozinha no mesmo pavimento. Esta última conectada a rua via galeria existente.   Estes quatros espaços encerram as áreas públicas conectadas na esplanada, porém o hotel ainda conta com a implantação de um centro de convenções composto por auditório e salas de reunião multiuso. 

Este bloco de três andares, sendo um deles, subsolo, compreende a ampliação do hotel. Está localizado a esquerda de quem entra no lobby, porém não segue a inclinação do mesmo. Seu alinhamento se relaciona com a esplanada, desta forma se apresenta tanto para quem está na rua quanto para quem vem da esplanada no sentindo norte-sul. Conectado ao hotel por meio de uma empena de pedra suaviza a altura do hotel e gera uma fachada nova, tão importante quanto a principal, tendo em vista o fluxo de pessoas canalizadas neste sentido. De estrutura metálica e vidro, o auditório para 300 pessoas tem fachadas de vidro duplo acústico e sistema de cortinas tipo blackout. Assim o auditório pode se comunicar e atrair pessoas interessadas, o conteúdo do contêiner bem como se isolar do exterior se isso se fizer necessário no andar superior e teto jardim onde estão às salas multiusos voltados para a montanha.

A decisão de implantar este bloco como ampliação do hotel e não de forma isolada foi levada em consideração na sua tipologia. A caixa de vidro de cobertura plana conectada ao hotel não rivaliza, pelo contrário, pretende incorporar todo o complexo fazendo a conexão da implantação angulosa do hotel com o eixo reto da esplanada. 

O hotel ainda conta com área de lazer paras os hóspedes, implantada entre a nova sede do Instituto Chico Mendes e a fachada sul do hotel. Esta área foi tratada como mirante privativo, tendo em vista que usufrui praticamente da mesma vista do mirante público. Nesse ponto também foi anexada uma circulação vertical encerrado o volume do hotel. Esta circulação além de ser uma ligação entre os hóspedes e esta área de lazer dá suporte a uma possível ampliação. Tendo em vista que o novo hotel foi pensado num sistema aberto, o mesmo ainda tem capacidade de expandir em aproximadamente mais 21 suítes sendo implantados em bloco em cima da área de lazer. Esta proposta não contempla esta ampliação e não tem a pretensão de prever o futuro, só reconhece o potencial da área em questão e suas futuras modificações. 

ESTAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA E EDIFÍCIO GARAGEM 

Com a função de ordenar o fluxo de pessoas e meios de transportes diversos que visitam o Cristo Redentor, estes equipamentos pretendem ir além de organizar e ordenar as várias necessidades de quem vai e vem. Pretende receber essas pessoas e lhes apresentar todo o complexo. Desta forma ambos foram pensados para serem edifícios transparentes, de onde se vê e se é visto. Onde a circulação se incorpora espaços de estar e encontros.  A estação de transferência, volume de três andares está conectada à esplanada no nível 460 e por consequência ao edifício garagem. Na cota 451, alcança o terreno e sua dinâmica. No andar intermediário está a nova plataforma do trem.  Sendo desta forma principal integrador das relações que acontecerão neste espaço. Tanto de quem está hospedado no hotel e precisa ir até a cidade, quanto quem vem da mesma para visitar o Cristo Redentor ou apenas apreciar as vistas e os serviços do novo complexo. 

Com térreo praticamente livre para organização das filas para visitar o Cristo e desembarque de pessoas que chegam da cidade, alguns poucos serviços foram implantados na cota 451: sanitários, bilheteria e base da polícia. Já no andar intermediário onde está a estação de trem, também se encontra algumas lojas temáticas e área de apoios a funcionários.  No último andar, sua cobertura serve de área de respiro para a esplanada, que se converte em espaço de estar e encontro à altura das copas das árvores.  O edifício garagem é o primeiro edifício que será visto para quem chega ao complexo. Por estas e por outras razões não poderia ser um edifício técnico e frio. Sua composição segue a da estação de transferência. Seus sete andares não causam impactos, pois sua implantação foi feita num ponto do vale e da área de intervenção com as cotas mais baixas. O sistema viário atual vence via uma ponte em curva este declive, passando rente ao edifício garagem na altura do seu quarto andar, desta forma ajudando na mimetização do edifício com o entorno.

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