Espaço Vivencial de Educação para o Transito Vila Augusta

Guarulhos-SP
Ano do Projeto: 2005
Projeto Premiado: 3º Colocado
Equipe: Lucas Feitosa, Humberto Buso, Thiago Zau e Fernanda Silva

Esta proposta para o ESPAÇO VIVENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO visa se distanciar ao máximo dos modelos atuais de “Cidades Mirins” encontrados nas maiorias das cidades brasileiras. Modelos preocupados somente na formação de futuros condutores mesmo que nem todos venham a adquirir um automóvel no futuro.

Cabe a nós equipe multidisciplinar, conceber algo mais contemporâneo e condizente com o meio em que vivemos, onde questões como crises energéticas, coletividade, espaço público X privado, estão mais à tona. Não necessariamente contemporâneo no sentido da alta-tecnologia dos materiais físicos utilizados, mas sim no modo de transmissão do conhecimento.

Quando projetamos um espaço público inserido na malha urbana, como é o caso, podemos e devemos projetar algo efetivamente público, sem barreiras ou restrições. Assim o foco da proposta continua sendo as crianças do ensino fundamental, como é a premissa do concurso, porém as mesmas precisam de continuidade nesta formação. Então se faz necessário um espaço que transmita conhecimento não apenas às crianças, mas que também recebam pais e professores e podendo aproximar agentes educacionais, hoje tão desvinculados, como é o caso da figura dos policiais, que é sem dúvida quem irá sedimentar o conhecimento adquirido no espaço vivencial e colocar em prática a legitimação do conhecimento.

ÁREA

Conglomerado público

O terreno posto a disposição pela prefeitura de Guarulhos para implantação do ESPAÇO VIVENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO tem uma localização privilegiada sob o aspecto da cidade da mobilidade sustentável.

Sua relação com o bairro é de extrema importância, por equacionar diversos usos essencialmente públicos como morar, circular, descansar e estudar. Para tanto é necessário olhar a área destinada ao projeto sob a ótica desses aglomerados de funções, que são apenas distintas por subdivisões da quadra original, porém que permanecem como conjunto, não apenas pela vasta vegetação de grande porte encontrada na área do projeto e em todo aglomerado, mas também pelo próprio sistema de circulação pública que circula o conjunto respeitando essa unidade.

Apesar dessa forte relação com o bairro, a área também tem sua relação regional potencializada pelos eixos de circulação do seu entorno, sendo fácil o acesso ao centro da cidade ou até mesmo a capital do estado.

IMPLANTAÇÃO

Gerar mobilidade e gerar conhecimento

A implantação do conjunto de edifícios do ESPAÇO VIVENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO tem como premissa não interferir e se possível potencializar essa multidiversidade de usos públicos encontrados na área desse conglomerado situado entre as ruas Salvador Gaeta, Joquim Miranda, Santa Augusta e Santa Filomena, entre eles o morar, estudar, descansar ou circular.

Os edifícios teriam que estar inseridos na área disponibilizada pela prefeitura, que se encontra no miolo do conglomerado, porém sem deixar de interagir com todo o conjunto inclusive respeitando as árvores que ali estão.

O resultado dessa equação, que além desses objetivos citados tem na circulação gerada entre as atividades educacionais, etapa fundamental do projeto pedagógico, é uma implantação em três blocos interligados por marquises e pérgulas que além de estarem relacionados com o miolo, devem se relacionar essencialmente com o conjunto.

A priori os três blocos têm sua relação com a rua, espaço público de excelência. Primeiro localizado ao norte da área, o educacional, edifício em “L” com o térreo livre abre-se como pórtico e convida quem está na rua a usufruir do espaço seja para aprender ou apenas para cortar caminho. Foi recuado até a sombra que a seringueira centenária oferece e em troca retribui todo o recuo ao uso definitivamente público.

O lugar onde se aprendia com certa importância, a utilização do automóvel, dá lugar a um espaço essencialmente público, sem barreiras e tabus simplesmente aberto, ora coberto ora descoberto, sendo, este sim espaço onde o importante é o encontro.

Ao sul da área na Rua Santa Filomena está implantado o auditório. Tratado aqui com a importância que estes espaços deveriam ter em todas as sociedades, espaço de reflexão e debate e fundamental na implantação de novos conceitos. Além da circulação gerada entre os blocos a idéia de dar ao auditório certa independência, tenta reforçar o conceito do aglomerado de funções e suas relações locais e regionais.

O terceiro bloco, a leste, é um mirante formado por uma rampa helicoidal. Além de se tornar um marco regional, podendo ser observado desde a rodovia Presidente Dutra, tem sua função didática apresentar a cidade como ela é, ao passo que se podem observar as intenções da cidade da mobilidade sustentável que estarão sendo praticadas na área, tendo sua relação não apenas com a rua, propriamente dito, mas com a cidade. Seu contraponto seria o prédio da secretaria da educação, a oeste, e a praça fechando o conjunto e passando para os observadores a sensação de espaço comum. Assim os três blocos, de certa forma, alcançam a rua e a rua é o lugar do povo.

01. PRAÇA JOAQUIM MIRANDA

A via pública respira e a praça aparece não esta da proposta, mas a que ali sempre esteve atrás dos muros. A idéia de recuar o bloco educacional à sombra da seringueira tem alguns objetivos. Respeitar as árvores que ali estavam já que sua implantação e imposição de um sistema viário coerente ao processo pedagógico, em sua escala real, resultariam na retirada ou transplante de algumas espécies. Criar um acesso, generoso, para a praça já existente, hoje murada e pouco expressiva já que é apenas percebida pelas copas das árvores. Subvertendo a idéia de que um ser humano motiva o outro, essencial para concretização do espírito público. Temos a consciência de que esta é uma situação existente e já absorvida pela população local, porém a criação da Praça Joaquim Miranda serve para mostrar outras possibilidades e desobstruir a vista da praça, pelo menos neste ponto.

Mantendo as árvores e retirando a antiga pista da “Cidade Mirim” a nova praça ganha espaços de convivência com equipamentos públicos acessíveis, como telefones, caixas de correios e possivelmente um ponto de ônibus modelo, colaborando com a polinização da proposta implantada pela prefeitura de Guarulhos, no centro da cidade, por toda a região.

Será também realizada uma marquise leve sobre a rua de acesso ao ESPAÇO VIVENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO. Esta via coberta além da utilização de acesso, seguindo as normas de implantação de vias públicas, oferecerá a população do entorno, área coberta e dignamente pavimentada, preferencialmente com pavimentação intertravada e permeável, como também será todo o circuito interno. Desta forma a opção pelo recuo do prédio, além de manter sua relação com a rua, respeitar as árvores existentes, oferece a população, este espaço público, que tem como principal objetivo ser continuação da praça existente que alcança a rua.

02. EDIFÍCIO EDUCACIONAL

Recuado e a sombra da seringueira, o edifício é dividido em dois blocos interligados pelo espaço para exposições que tem função e estrutura de passarela. O primeiro bloco, voltado para Rua Joaquim Miranda, abriga as atividades pedagógicas e administrativas, seu sistema estrutural mescla pilares e lajes de concreto com vigas de aço, necessária para vencer a modulação de 8x8 metros interferindo o mínimo possível no térreo já que este terá grande utilização. Conta ainda com massas de alvenaria estrutural, dispostas no eixo longitudinal do bloco, e abrigam banheiros, depósitos e cozinha no pavimento superior, e no térreo, a oficina e a garagem das bicicletas e a lanchonete. O resultado é uma caixa suspensa ora cheia ora vazada que emolduram a praça existente e o prédio da secretaria da educação, de maneira a não tornar a paisagem enquadrada monótona realçando seu valor.

O outro bloco, perpendicular ao primeiro, completa a implantação em “L”, abriga as salas de aulas e a biblioteca segue o mesmo sistema estrutural, porém, muito mais transparente, já que não conta com o sistema de alvenaria estrutural. Seu eixo longitudinal norte-sul faz com que a fachada leste olhe para a figueira enquanto a fachada oeste é protegida por um beiral generoso. O térreo deste bloco, abriga um ponto de ônibus, que faz as vezes de terminal urbano, onde as crianças são recepcionadas após serem buscadas nas escolas pelos micro ônibus. Também um balcão de recepção implantado no espaço coberto, no ponto central da área, para receber seja quem chega da rua Joaquim Miranda, da praça existente ou da rua Santa Filomena.

03. MIRANTE

A representação do processo pedagógico moldado em concreto e aço torna-se o símbolo do ESPAÇO VIVENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO, o mirante implantado na extremidade oeste da área tem altura equivalente a três andares, de onde é possível avistar não apenas o circuito interno, mas o mais importante pode-se do alto, observar a cidade real com seus conflitos, para daí pela descoberta, poder cristalizar o conhecimento. Sua relação com a rua, ponto primordial dos edifícios implantados na área, acontece de fora para dentro. Ao apresentar a cidade real para os observadores apresenta o ESPAÇO VIVENCIAL para a cidade, podendo ser percebido como marco no seu entorno.

04. AUDITÓRIO

Ao sul da área na Rua Santa Filomena está implantado o auditório. Tratado aqui com a importância que estes espaços deveriam ter em todas as sociedades, espaço de reflexão e debate e fundamental na implantação de novos conceitos. Basicamente de alvenaria estrutural, segue a mesma configuração das caixas de alvenaria do edifício educacional. Aqui a função do edifício é exteriorizada aparecendo na volumetria. Sua função de pórtico de entrada é ressaltada pela estrutura industrial que cobre as circulações que é praticamente continuação da calçada existente incorporando rampas e escadas criando um espaço de estar e não apenas de passagem.

Para esta área abre-se uma vitrine interligando interior e exterior. Será previsto um fechamento para esta vitrine prevendo as possíveis utilizações deste espaço, porém se faz necessário pensar na importância de um espaço de discussão como este e no quanto essas discussões são importantes para formação dos cidadãos. Assim uma pessoa que está circulando pode-se motivar a entrar e participar de palestras ou outras atividades.

Além da circulação gerada entre os blocos a ideia de dar ao auditório certa independência, tenta reforçar o conceito do aglomerado de funções e suas relações locais e regionais.

05. SISTEMA DE CIRCULAÇÃO

A implantação dos edifícios buscando a rua e espalhando o programa pela área proporciona um sistema de circulação interessante que possibilita aos usuários do ESPAÇO VIVENCIAL observar as possibilidades da mobilidade sustentável. Conta com um circuito de ruas pavimentadas com intertravados de concreto tornando a área o mais permeável possível. Atualmente algumas ruas da cidade seguem este padrão que pode ser incorporado ao projeto. O projeto está dimensionado em sua escala real possibilitando a circulação de veículos e microônibus pela área, enfatizando assim os conflitos com os demais meios de circulação, que neste caso são as vias de pedestres e as ciclovias. As vias de pedestres receberam especial atenção. Além possibilitar a circulação livre e desimpedida pela área, criando rotas acessíveis, respeita o paisagismo implementado pela prefeitura com caminhos, mas livres de cimento desempenado e sempre que possível, respeitando a topografia existente, esses caminhos se abrem e dão lugar a espaços de convivência, convite a aulas ao ar livre ou para hora do lanche.

06. ESTRUTURAS INDUSTRIAIS RECICLADAS

Optamos em criar elementos visuais que representassem, não apenas ideias do ESPAÇO VIVENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO, mas também sua origem e sua localização. Estes elementos dariam unidade ao conjunto, já que seriam executados nos três edifícios e precisariam necessariamente trabalhar a ideia de escala dos observadores. Longe do novo projeto, ter alguma referência com a Cidade Mirim era necessário trazer para área a multidiversidade de escalas que é encontrado na cidade real. Trazer a imagem da cidade de Guarulhos para a área. Cidade que exerceu papel fundamental no processo de industrialização do país e que hoje está se adaptando e evoluindo às novas configurações econômicas e espaciais. Era ainda preciso agregar conceitos de sustentabilidade e reciclagem.

E algo que vem de encontro com estes ideais é o projeto executado pelo arquiteto Luiz Henrique Zanetta, que é de extrema generosidade urbana, na cidade de Santo André, São Paulo com a criação do Parque Escola como laboratório da idéia, e posteriormente implantado, o Parque Central.

Tendo estes projetos como norte, propomos como resposta aos anseios citados acima a reciclagem de antigas estruturas indústrias, provenientes de áreas onde estão ocorrendo mudanças de usos e reutiliza-las aqui no Espaço Vivencial. Seriam intervenções pontuais, coberturas feitas basicamente de treliças de aço ou outros materiais encontrados na região. Serão destacadas dos volumes dos blocos e receberão acabamento uniforme. O fato de terem a função de cobertura é conceitualmente interessante já que queremos marcar a idéia de mobilidade. Ora funcionam como proteção mecânica contra as intempéries ora avançam um pouco criando um beiral generoso, porém o mais importante é que elas venham da cidade para o espaço vivencial, reforçando a idéia de reciclagem, transmitindo unidade ao conjunto e se apresentando como símbolo da mobilidade sustentável.

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